VII Festival de Teatro de Fortaleza





























Com mais de 30 apresentações grátis, tem início, hoje, o VII Festival de Teatro de Fortaleza. "Ópera dos Vivos", da Cia do Latão (SP) é a primeira peça da programação.

A disputa por ingressos promete ser grande. São apenas 100 lugares disponíveis para conferir o espetáculo "Ópera dos Vivos", da Companhia do Latão (SP). A montagem abre a programação do VII Festival de Teatro de Fortaleza que tem início, hoje, e segue até o dia 16 de outubro.Finalista do prêmio da revista Bravo!, na categoria de melhor espetáculo do ano, "Ópera dos Vivos" resulta de dois anos de pesquisa da companhia. A peça combina teatro, música e cinema para abordar a produção cultural brasileira dos anos 60 até os dias atuais, tendo como fio condutor uma reflexão sobre a mercantilização do trabalho artístico atual."Nossa proposta é pensar sobre esse nível de especialização no fazer artístico hoje, o fato de se precisar de tanto dinheiro para produzir cultura", ressalta o diretor de "Ópera dos Vivos", Sérgio de Carvalho.Juntamente com as leituras e experimentos cênicos, a pesquisa envolveu entrevistas com mais de 30 artistas dos anos 1960, tais como Chico de Assis, João das Neves, Helena Ignez e Nelson Xavier, além de teóricos."Houve uma mudança de postura dos artistas brasileiros. Nos anos 60 eles questionavam até a própria instituição da arte, exerciam um olhar crítico. Hoje, esse posicionamento tem diminuído", lamenta Carvalho."Nas palavras da atriz Helena Ignez, por exemplo, no cinema atual, se caísse um meteoro no set não seria possível nem filmar, porque isso não estaria previsto na ordem do dia", critica."Ópera dos Vivos" dialoga com elementos que marcaram a cultura brasileira no período do golpe militar, como o Cinema Novo de Glauber Rocha, a experiência do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), e a Tropicália, entre outras referências. O ensaio "Cultura e Política", de Roberto Schwarz, guiou a fase final da pesquisa."A peça tenta mostrar que essa mercantilização não é necessariamente uma emancipação. Ao contrário, pode até ser uma derrota", esclarece Carvalho. "Queremos entender porque esse processo acontece e o preço que se paga por ele, a contradição pesada que ele gera. Porque o artista não pode fingir que o mercado não existe, mas precisa manter um olhar crítico em relação a ele, e não simplesmente abastecê-lo".

Intimista

O espetáculo é composto por quatro atos - "Sociedade Mortuária", "Tempo Morto", "Privilégio dos Mortos" e "Morrer de Pé". Embora possam ser apresentados de maneira independente, juntos, eles dialogam e compõem um panorama da cultura nos últimos 50 anos do Brasil.A primeira parte, "Sociedade Mortuária", inspira-se na história das Ligas Camponesas surgidas no interior pernambucano, entre o fim dos anos 50 e os anos 60, a partir das associações de camponeses que se uniam para comprar caixões e ter enterros minimamente dignos.O segundo ato, "Tempo Morto" é, literalmente, um filme exibido no teatro. O terceiro ato, "Privilégio dos Mortos", discorre sobre o retorno aos palcos de uma cantora engajada que ficou três anos em coma. Na ocasião, quase todos os seus amigos já se dedicam à música pop.O quarto ato, "Morrer de Pé" baseia-se na situação de um grupo de pessoas produzindo uma minissérie nos anos 60, dentro de um estúdio de TV. Ao todo, o espetáculo tem duração de 4h30. "É uma peça muito especial da Latão, já fizemos três temporadas no Rio e em São Paulo", comemora Carvalho."Ópera dos Vivos" será encenada no Theatro José de Alencar. Devido ao caráter intimista, exige limitação no número de espectadores. Os 100 convites disponíveis serão entregues gratuitamente por ordem de chegada, uma hora antes do início da apresentação."Não temos condições técnicas de trazer um público muito grande, porque ele se move ao longo dos atos. Uma hora está dentro da cena, em outra, mais distante, na posição tradicional do palco italiano", explica o diretor da peça.

Espalhado

Além da Companhia do Latão, mais 30 apresentações gratuitas de grupos locais acontecem por diversos espaços da Cidade, no sentido de garantir o acesso de quem costumeiramente não frequenta as salas de espetáculo e o circuito das artes cênicas.A lista de lugares inclui escolas públicas e praças localizadas em territórios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Debates e ações formativas também estão previstas. Entre os grupos selecionados há nomes como Bicoleiros, Coletivo Cambada, Teatro Mimo e Teatro Máquina, entre outros.

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