O Nordeste em fúria




Historiador Ângelo Osmiro Barreto reconstitui episódios da história do cangaço, para além de Lampião

Durante a pesquisa para a construção do livro, o autor foi alvo de críticas vindas tanto de amigos quanto de membros da academia: "A violência com certeza é inerente ao cangaço, naquele período a lei do mais forte imperava"
Nem só de Lampião se fez o cangaço. Foi dessa premissa que partiu o historiador Ângelo Osmiro Barreto para escrever o livro "Assim era Lampião e outras histórias", cujo lançamento acontece hoje à noite. A partir de pesquisa bibliográfica e de campo, Barreto percorre o rico universo do sertão nordestino entre meados do século 19 até os anos 1930 - período em que a região padeceu sob os conflitos entre coronéis e cangaceiros, alimentados pela ausência do poder público.

A delimitação temporal adotada por Barreto toma como referência, em parte, a morte de Lampião, assassinado junto com integrantes do seu bando em 1938, em uma fazenda no sertão de Sergipe. "Embora não tenha sido o único personagem do cangaço, é um dos principais, o que mais percorreu Estados e que, por isso, o que mais deixou miséria pelo que fez", justifica o historiador.

O raciocínio de Barreto vai na contramão da romantização empreendida por muitos dos produtos culturais sobre o cangaço - desde músicas até filmes, livros, cordéis e outros. "Lampião não foi um herói que lutou contra os coronéis, assim como nenhum outro cangaceiro", frisa ele.

No texto de abertura do livro, o autor complementa a argumentação: "A violência com certeza é inerente ao cangaço, naquele período a lei do mais forte imperava, onde o Estado pouco ou nada contribuía para a melhoria de vida das pessoas, o poder do coronel representado pelo tamanho de suas terras e o número de seus jagunços era de fato a lei".

Exatamente pelo fator da violência, Barreto acredita serem importantes as pesquisas sobre o cangaço - tema que precisou justificar repetidas vezes frente aos olhares e comentários de desmerecimento lançados por alguns amigos e até por colegas acadêmicos.

Para ele, no entanto, pesquisar o cangaço não significa endossar, mascarar ou romantizar a violência característica desse universo. "Deve-se estudar o cangaço assim como outros períodos e episódios de nossa história, que nos ajudam a entender o Nordeste e o Brasil. Ao mesmo tempo, as pesquisas permitem corrigir as distorções sobre as figuras desse universo, a exemplo do ´heroísmo´. Por fim, entender o cangaço ajuda a evitar que se cometam os mesmos erros", explica.

A paixão pelo cangaço vem desde a adolescência, graças, em parte, à coleção de livros formada em casa pelo pai professor - entre eles, alguns volumes sobre o tema. "Depois de me afastar por um tempo, retomei as leituras sobre o assunto e me interessei em conhecer os locais onde ocorreram os episódios", conta.

Foi essa paixão que levou Barreto à presidência do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará (GECC); antes, também foi presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC).

Mais informações
Lançamento do livro "Assim era Lampião e outras histórias" - hoje, às 19h30, no auditório da EngExata Engenharia (R. Joaquim Nabuco, 1950, Aldeota). Aberto ao público. Contato: (85) 3133.8855
LIVRO

Assim era Lampião e

outras histórias

Ângelo Osmiro Barreto

LC Gráfica e Editora

2012, 238 páginas

R$ 30










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